Júlio C. Felix – Diretor de Relações Institucionais e Governamentais da Hilab.
Guilherme Pozzolo – Neurologista e Médico do Corpo Clínico da Hilab.
“É difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro!” – Niels Bohr.
Iniciamos com esta citação para salientar que qualquer texto que se proponha a vislumbrar o futuro inevitavelmente contém uma grande dose de especulação e elevadas taxas de incerteza. No entanto, sem um pouco de imaginação e audácia, é impossível traçar e construir um caminho entre nosso presente e o futuro desejado.
Nesta desafiadora tarefa, uma das formas de evitar equívocos é observar a história e as tendências de outros setores que já passaram por revoluções mais intensas. Notavelmente, o setor da saúde avança com passos mais cautelosos. Quando o objeto de estudo são vidas humanas, todo cuidado é necessário e a velocidade sempre será reduzida, especialmente nas curvas.
“O que não pode ser medido, não pode ser gerenciado.” – William Deming.
Dito isso, algumas coisas são indiscutíveis. Para tomar decisões acertadas, precisamos de informações relevantes e métricas precisas. Não existe discernimento que permita boas decisões baseadas em dados falsos, incompletos ou distorcidos. A saúde está passando, ainda que de maneira incipiente, por uma significativa revolução da informação.
Se o nosso carro quebrar no meio de uma viagem e tivermos seguro, será possível acessar uma central telefônica onde o atendente terá todos os nossos dados cadastrais. Quando formos perguntados sobre alguma informação, na maioria das vezes, será apenas para confirmação. Agora, se tivermos uma diarreia nessa mesma viagem e procurarmos atendimento, não haverá nenhum tipo de registro. Seremos completos desconhecidos, informando desde a idade até a posologia de nossas medicações de uso contínuo. O carro é mais importante do que a vida?
No futuro próximo, tais situações se tornarão inaceitáveis. Para atender uma pessoa da mesma maneira que se atende um carro, será fundamental integrar os sistemas de gestão da informação. As seguradoras passaram por esse movimento e hoje integram as informações independentemente de qual corretora fez a venda do seguro ao cliente. Precisaremos da centralização desses dados clínicos independentemente do prestador que realizou o atendimento naquele e em outros diversos momentos (Clínica, UPA, UBS, Hospital, Convênio e afins).
Ao ligar o carro, temos um painel que demonstra o nível de combustível e diversas outras informações relevantes para o funcionamento do automóvel. Para qualquer problema, pode ter certeza de que alguma luz acenderá no painel. Nós temos algumas luzes também, são nossos sinais vitais e sintomas. Entretanto, eles aparecem com o surgimento da doença e não pelo leve desvio da fisiologia, como nos carros.
Teremos um painel na testa? Achamos que não. Contudo, o crescimento dos dispositivos vestíveis (wearables) possibilitará a monitorização de diversos dados de modo contínuo e a sinalização de alterações pré-clínicas, isto é, antes da percepção do problema pelo paciente. Adotar a utilização desses dispositivos será positivo para a morbimortalidade da população? Teremos aumento do número de consultas médicas desnecessárias? Veremos acréscimos de procedimentos desnecessários por indicações dúbias de algoritmos dos wearables? Só o futuro dirá. Mas, novamente, a tendência existe e é difícil fugir dela.
Aumentar a integração dos dados e a geração de informações parece lógico e óbvio, não é? Pois bem, esses dois fenômenos impulsionam várias outras mudanças. Quanto mais momentos forem passíveis de captar dados, melhor será para posterior análise e acurácia dos algoritmos. Facilitar a criação desses momentos nas mais diversas frentes é imperativo. Sabemos que a telessaúde possibilita a realização de consultas em regiões remotas com baixo grau de representatividade médica, um enorme ganho. Além disso, para várias situações, gera maior comodidade no atendimento, e concebe um dado invisível no atendimento presencial padrão: a moradia.
“Não chegamos a conhecer as pessoas quando elas vêm à nossa casa; devemos ir à casa delas para ver como são.” – Johann Goethe.
Nas consultas por telessaúde, é possível visualizar o domicílio do paciente e encontrar eventuais fatores ambientais que passariam despercebidos numa consulta em estabelecimentos de saúde. Visualizar mofo intenso na parede do quarto é muito mais importante do que ter um Holter 24 horas através de um smartwatch na avaliação de um paciente com tosse crônica. Já imaginaram que a telemedicina pode propiciar uma telepropedêutica ampliada em diversas situações e que o melhor dos mundos poderá ser a oscilação entre os modelos de atendimento, virtual e presencial? Nós já imaginamos. Novamente, o futuro dirá.
Um dos dados que não é produzido pelos atendimentos por telesaúde são os resultados laboratoriais. Os resultados têm o potencial de modificar o destino dos pacientes, definindo, em conjunto com o raciocínio clínico, a necessidade de procedimentos intervencionistas, internamentos hospitalares e alta médica. Nesse aspecto, a biotech Hilab oferece uma nova solução para um problema antigo.
Na maioria das instituições, o laboratório é organizado de forma centralizada. Suas atividades priorizam sua organização interna ao invés de colocar em primeiro plano as demandas do estabelecimento. São escolhidos horários fixos para coleta, transporte, processamento e transposição das informações. Não é difícil perceber a influência do modelo industrial fordista transposto ao regime dos laboratórios. Na indústria automobilística, houve uma substituição do modus operandi pelo modelo focado na demanda, Just in Time, com seu representante consagrado na Toyota.
O setor de saúde possui um período maior de latência para a mudança dos paradigmas. Apesar do atraso, as mesmas tendências acabam influenciando sua cadeia de produção. Recentemente, avanços tecnológicos, como a utilização da internet para comunicação, foram incorporados nos atendimentos de telessaúde. Hoje, o armazenamento de grandes volumes de imagens médicas é realizado via computação em nuvem. Mudanças feitas em outros setores décadas antes.
Quando se trata da evolução de laboratórios, o point of care (POC) é a solução para um ambiente descentralizado, portátil e ajustado sob demanda. O POC é disponibilizado em pequenas unidades para todos os ambientes desejados e utilizado conforme surgem as necessidades, acelerando a obtenção dos resultados e a tomada de decisão, fundamentais para a preservação da vida e da saúde. O aumento nessa velocidade é percebido em todos os setores, mas produz os maiores impactos nos setores de urgência e emergência.
Em nossa perspectiva, a descentralização do cuidado e o maior gerenciamento de dados serão as maiores forças motrizes de transformação da saúde populacional. Num futuro próximo, trataremos das personalizações viáveis para a medicina dos 5Ps: preditiva, preventiva, personalizada, participativa e precisa. Acreditamos que a convergência dessas tendências resultará em um sistema de saúde mais eficiente, acessível e centrado no paciente.
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Referências Científicas
- Bauchner H, Berwick D, Fontanarosa PB. Innovations in Health Care Delivery and the Future of Medicine. JAMA. 2016 Jan 5;315(1):30-1. doi: 10.1001/jama.2015.17452. PMID: 26746453.
- Goble JA, Rocafort PT. Point-of-Care Testing. J Pharm Pract. 2017 Apr;30(2):229-237. doi: 10.1177/0897190015587696. Epub 2016 Jul 9. PMID: 26092752.